Em 2008, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), foram registrados, no Brasil, mais de 70 mil mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC). A doença é silenciosa e, por isso mesmo, extremamente perigosa. Diabetes, hipertensão, colesterol elevado e estresse são as principais causas dessa doença que, ainda segundo o MS, custou ao Sistema Único de Saúde (SUS) cerca de 190 milhões de reais para tratamento clínico dos pacientes.
Como o nome já diz, o AVC é caracterizado por uma falha no fornecimento de sangue para o cérebro. De acordo com o eletrofisiologista e doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Dalmo Moreira, "o AVC é um comprometimento da circulação cerebral e pode ser causado por duas condições: isquêmica ou hemorrágica. O AVC isquêmico é a obstrução arterial por um coágulo, o que impede o sangue de chegar a uma determinada região do cérebro já o AVC hemorrágico é a ruptura de uma artéria, que provoca o extravasamento de sangue para o cérebro. O AVC isquêmico é mais comum, englobando cerca de 70% dos casos".
Dentro do grupo de risco estão as pessoas idosas e as que possuem qualquer outro fator que possa levar ao acidente. "Pessoas acima de 65 anos, que já têm história prévia de AVC isquêmico, pressão alta, diabetes, colesterol elevado, estresse e/ou insuficiência cardíaca. Mulheres acima dos 65 anos têm risco aumentado, pois a menopausa acarreta em uma deficiência hormonal que agrava alguns fatores de risco. A arritmia chamada fibrilação atrial é responsável por cerca de 20% dos casos de AVC isquêmico e deve ser observada com atenção", alerta Dalmo.
A fibrilação atrial, ainda de acordo com Dalmo, merece atenção especial, pois é a principal causa do AVC isquêmico, o tipo mais comum. "A fibrilação atrial pode formar, dentro do coração, coágulos, que se desprendem e podem alojar-se em alguma artéria cerebral, provocando o acidente vascular, o que não é incomum. Por isso, é importante fazer o diagnóstico precoce da fibrilação atrial. O tratamento com anticoagulantes pode evitar a formação do coágulo e, assim, evitar o AVC. Qualquer um pode prestar atenção no próprio pulso e, caso perceba o coração batendo de maneira descompassada, procurar imediatamente o médico e fazer o eletrocardiograma, que detecta a arritmia", aconselha.
Embora não seja o tipo de acidente mais comum, o AVC hemorrágico pode ser evitado bastando-se controlar a pressão arterial. Dalmo explica que "o AVC hemorrágico pode acontecer por dois motivos: ruptura de um aneurisma (dilatação anormal de uma artéria) ou de um vaso sanguíneo enfraquecido. A hipertensão arterial pode provocar a ruptura desses vasos. Se o paciente tiver crises frequentes de mal estar, dor de cabeça, tontura, deve procurar o médico para verificar a existência de um aneurisma ou hipertensão".
Ninguém gostaria de sentir na pele qualquer sintoma de AVC, mas é importante ter conhecimento. "Os sintomas do AVC variam de acordo com o território do cérebro onde o acidente ocorreu. Mas, quando se manifesta, vem com uma incoordenação motora, paralisia (braço, perna, boca), formigamento intenso em alguma parte do corpo, perda de sensibilidade e motricidade de alguma área. O indivíduo levanta e percebe uma fraqueza na perna, não consegue abotoar camisa, sente tontura, mal-estar, náusea, vômitos e até perda da consciência. Se a área do cérebro atingida for muito pequena, ele pode se recuperar quase que totalmente, se tratado logo. Os acidentes decorrentes da fibrilação atrial têm menores chances de recuperação e raramente uma vítima se recupera totalmente", conclui o eletrofisiologista.