Ele chega sorrateiro e raramente sinaliza a sua presença. Ao contrário do que muita gente acredita, o câncer de colo de útero é um inimigo efetivo das mulheres maduras e, segundo especialistas, o Brasil já apresenta 18 casos em cada 100 mil mulheres. Intimamente relacionado ao Papiloma Vírus Humano (HPV, sigla em inglês), uma doença sexualmente transmissível, esse tipo de câncer demora a se desenvolver e, por causa disso, o Ministério da Saúde oficializou novas diretrizes para a prevenção da doença.
O atendimento para a realização do exame preventivo, o Papanicolaou, foi ampliado de 59 para 64 anos de idade. As novas diretrizes foram lançadas na 14ª edição do Congresso Mundial de Colposcopia e Patologia Cervical, que reuniu esta semana no Rio cerca de dois mil médicos e especialistas. O exame é a principal forma de detectar o câncer de colo de útero. De acordo com Maria José de Camargo, doutora em Saúde da Mulher e ginecologista do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), “a mulher deve fazer o exame de Papanicolaou assim que começar a vida sexual, mas a fase de risco do câncer de colo de útero começa por volta dos 25 anos de idade. Através do exame é possível detectar a presença e o tipo do HPV, se ele é maligno ou não, e dar início ao tratamento”.
Apesar de a fase de risco desse tipo de câncer começar na faixa dos 25 anos de idade, Maria Jose explica que a doença geralmente se instala na quarta ou quinta década de vida da mulher e, por isso, a ampliação da faixa etária que deve fazer o exame pelo Ministério da Sáude. “A evolução do câncer de colo de útero é muito lenta. Após o contato, ela demora cerca de cinco anos para apresentar a chamada ‘doença pré-maligna’ e mais cinco ou dez anos para ela evoluir para o câncer de colo de útero. A idade de risco varia dos 25 aos 64 anos de idade e, por isso, a ampliação da necessidade de se fazer o exame”, diz.
Com uma incidência relativamente alta entre a população brasileira, de 18 casos para cada 100 mil mulheres, o Ministério da Saúde resolveu prestar atenção à doença. “Países do norte europeu apresentam um índice de 3,5 a 4 casos a cada 100 mil. Em alguns países africanos, esse índice chega a 50 casos. Em lugares do norte e nordeste do Brasil, o índice é semelhante aos países africanos e a prevenção é muito importante. Cerca de 30% das pessoas apresentam o HPV no organismo e, ao longo da vida, o risco de contato chega a 80%. O tipo viral que causa o câncer é assintomático e geralmente só é detectado através do exame de Papanicolaou. A doença é o câncer, mas o HPV é o vilão”, alerta Maria José.
Para fazer a correta prevenção do câncer, a mulher deve repetir os exames com regularidade. Segundo o Secretário de Atenção à Saúde, Helvécio Miranda Magalhães Jr., serão investidos cinco bilhões de dólares nesse tema pelos próximos três anos. A ginecologista diz que “a proposta é de se fazer um exame por ano e, se eles tiverem resultado normal, o prazo pode ser ampliado para um exame a cada três anos. Os postos de saúde pública estão recebendo um investimento muito grande do Governo para proporcionar um exame de Papanicolaou de boa qualidade para a população. Às mulheres, sugiro recorrerem à rede de saúde pública para fazer o exame do que buscarem atendimento em clínicas particulares pouco confiáveis”.